Na linguística, sinônimo é uma palavra que tem o mesmo significado que outra ou algum conceito aproximado. Na viticultura brasileira, quando se ouve o nome de Murillo de Albuquerque Regina a primeira coisa que vem à mente é o universo do Vinho de Inverno. Pesquisador, produtor e empreendedor, Murillo de Albuquerque Regina começa mais uma jornada anual de liderança com propósitos definidos e um balanço extremamente positivo de 2022. Ele é o presidente da Associação Nacional dos Produtores de Vinhos de Inverno (Anprovin), entidade fundada em 2016 com o objetivo de apoiar o produtor, estabelecer parâmetros técnicos e, de forma ousada e pioneira, construir, implementar e expandir a Marca Coletiva Vinhos de Inverno.
Há seis anos, com um grupo de sócios-fundadores, que são seus amigos e colaboradores de confiança, Murillo de Albuquerque Regina ajudava a plantar mais uma história de sucesso. Na verdade, uma evolução de sua obstinada busca pela viabilidade de um vinho de excelência no Brasil, aproveitando as condições climáticas muito parecidas de uma região específica do Sudeste (hoje esse cenário mudou) com o terroir de produção nobre na Europa.
Esse pionerismo do pesquisador Murillo de Albuquerque Regina está reconhecido por premiações ao longo dos últimos anos e, sobretudo, pelos resultados alcançados pelos produtores a partir da técnica difundida por ele. Seus estudos no Brasil e Exterior abriram novas fronteiras para o vinho nacional, qualificando aqueles que adotam a técnica da dupla poda.
Essa prática inverte o ciclo natural da videira, de forma a criar as melhores condições para o desenvolvimento, maturação e colheita das uvas, levando em conta a grande amplitude térmica no Outono/Inverno e um cenário de pouca chuva. A chuva, aliás, é um fator que não contribui com a qualidade dos vinhos finos.
Murillo abriu um espaço na sua apertada agenda de trabalho para conversar com o time de Comunicação da Anprovin.
Nessa entrevista, ele faz um balanço positivo de 2022, lembra da saga da fundação da Anprovin, recorda dos passos que foram dados de forma paulatina e calculada nesse período e salienta o necessário debate sobre as macrorregiões dos Vinhos de Inverno no País. Murillo descreve ainda um cenário otimista para o segmento, com expansão sólida dos hectares plantados para a dupla poda e consequente crescimento do número de associados e evolução da qualidade do vinho. Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
2022 foi um ano de grande expansão para a Anprovin. Já são 41 vinícolas associadas, oriundas de seis estados brasileiros. Como você avalia esse crescimento?
Para fazer um balanço de um ano altamente produtivo, peço licença para resgatarmos a nossa história. Em 2016, há seis anos, reunimos um grupo de sócios-fundadores (dez ou 11) com o objetivo de buscar a normatização e a regulamentação dos Vinhos de Inverno. Fizemos esse caminho da regulamentação para evitar eventuais fraudes e prezar pela qualidade do vinho. O regulamento descreveu, entre outros pontos, os padrões sensoriais e analíticos.
Era o pilar desse projeto, então?
Exatamente. Criamos a fundação. Na verdade, flexibilizamos inclusive as regras. Havia quem as considerasse extremamente rigorosas. Era necessário, mas fizemos algumas adaptações. A questão da chuva, por exemplo, que é o principal fator que complica a produção dos Vinhos de Inverno na época da maturação e colheita. Havia um limite de tolerância de 100mm de precipitação para a região no Outono/Inverno. Passamos para 150mm. Havia também um padrão de temperatura mínima de 10,2° e passamos para 15°. Tudo para nos adaptarmos à nova realidade da produção brasileira.
Murillo, você se refere então ao novo mapa dos Vinhos de Inverno no Brasil, certo?
Isso mesmo. Hoje são 41 produtores associados, com propriedades em 31 municípios, de seis estados brasileiros (Minas, São Paulo, Goiás, Distrito Federal, Bahia e Mato Grosso). Fizemos nossa primeira experiência da dupla poda numa propriedade em Três Corações, no Sul de Minas Gerais. Hoje temos associados produzindo no Cerrado, no Planalto, no Interior de São Paulo e em algumas regiões do Nordeste, ou seja, totalmente fora do eixo de Três Corações. Por isso, fazendo uma retrospectiva desde 2016, considero 2022 um ano vitorioso para a Anprovin. Lançamos o selo de certificação, participamos de vários eventos como o 1º Festival de Vinhos de Inverno e Espumantes do Sudeste, realizado por nós, junto com parceiros e apoiadores. Mas também estivemos em várias feiras, como a Agrishow, a São Paulo International Trade Fair e a ProWine.
Vem mais feiras e sócios por aí?
Sim, em 2023 pretendemos participar de quatro ou cinco feiras. Já temos pelo menos cinco solicitações de novos associados. Em nossa assembleia ordinária, prevista para fevereiro, deveremos chegar a 45 ou 46 vinícolas associadas.
2022 marca, então, um ano histórico para a associação?
Sem dúvidas. É um divisor de águas para a Anprovin. Tudo aquilo que prometemos lá em 2016 para nossos associados, consolidamos em 2022. Foi um ano pleno! Os mecanismos da certificação estão traçados e consolidados. Não adiantava fazer marketing antes de cumprir essas etapas.
Qual o limite de expansão dos Vinhos de Inverno? Ou não há?
Não sei o limite. Isso está atrelado às condições da macroeconomia brasileira e do consumo de vinhos no País. Mas vejo um mercado em ascensão, sou otimista, creio que vai fluir para o melhor. Temos área de expansão. Um dos termômetros que temos é a Vitacea, fornecedora de mudas de vitis viníferas. Em 2022, estimamos 800 mil mudas fornecidas aos produtores. Para 2023, já há um milhão de mudas encomendadas.
E a produção?
Hoje temos 391 hectares plantados de dupla poda de nossos associados. Acredito que dobraremos esse território em curto tempo. Também em curto ou médio prazo chegaremos a 1 milhão de garrafas de Vinho de Inverno e, depois, a 2 milhões (hoje são 651 mil, aproximadamente, a quantidade anual).
O debate sobre as macrorregiões geográficas já começou?
Sim, isso já começou a se materializar em 2022. A marca coletiva Vinhos de Inverno tem registro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), cujo detentor é a Anprovin. O selo é um atestado de credibilidade, rigor e proteção aos vinhos de seus associados. Agora, temos um debate necessário, que são as indicações geográficas. A Anprovin não pode, por ela, indicar ao INPI um único CNPJ para atender as normas. Cada macrorregião produtora deverá ter o seu substituto processual.
Um CNPJ para cada macrorregião?
Sim, por isso os líderes de cada grupo de trabalho têm uma missão importante: organizar os produtores em suas regiões.
Como será isso?
A Anprovin sugere que cada grupo de trabalho crie uma estrutura jurídica independente atrelada ao Vinho de Inverno. A Anprovin reconhece uma dezena de regiões para fins de demanda de indicação geográfia. Esse processo passa pelo crivo e pela chancela da Anprovin.
E o produtor?
O produtor de uva, para ser sócio de um núcleo regional, por exemplo, tem que ser sócio da Anprovin. Cada macrorregião se organiza de acordo com as suas necessidades e peculiaridades.
Quais são essas macrorregiões?
Chapada Diamantina, Chapada dos Guimarães, Campo das Vertentes, Cerrado Mineiro, Mogiana, Circuito das Frutas, Mantiqueira, Serras do Rio, Pinhal, Sul de Minas e Planalto Central.
Esse regramento que a Anprovin está desenvolvendo segue referências internacionais?
É o padrão que o Brasil já está seguindo. É uma evolução normal de nossa cadeia de produção. Os Vinhos de Inverno vão ter que se reiventar a cada dia à medida que o mercado expande e o consumo aumenta, sempre respeitando as condições de ambiente e ecologia de cada região de cultivo, o que chamamos de terroir. É um grau evolutivo. Vejo tudo isso como uma consolidação da iniciativa que a Anprovin tomou lá atrás. Ganhar mais associados e fortalecer o nosso setor serão consequências naturais desse esforço de todos nós!